Proposta de Lira para ICMS de combustível não resolve problema de preços, diz setor

 quinta, 07 de outubro 2021

Proposta de Lira para ICMS de combustível não resolve problema de preços, diz setor

Defensor de mudanças no modelo de cobrança do ICMS dos combustíveis, o setor de petróleo vê a proposta apresentada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), como um arremedo que pode ter efeitos apenas temporários, diante da escalada das cotações internacionais do petróleo.

Para as maiores empresas do setor, o ideal é votar projeto de lei que altera a cobrança para um valor fixo em reais, em vez da alíquota percentual sobre o preço final, como é hoje. Esse modelo chegou a ser proposto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no início de 2020.

Lira, por outro lado, quer que a alíquota percentual passe a incidir sobre o preço médio dos últimos dois anos, o que reduziria a volatilidade do imposto estadual. Em um primeiro momento, defende o deputado, a mudança reduziria o preço da gasolina em 8%. O diesel cairia 3,7%.

A queda seria resultado da redução do preço de referência para a cobrança do imposto, já que o prazo de dois anos considera valores mais baixos do que os atuais, incluindo o período em que o petróleo chegou a ser negociado a preços negativos pelo excesso de estoques no início da pandemia.

Segundo os dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), por exemplo, o preço médio da gasolina em dois anos é de R$ 4,79 por litro, contra os R$ 6,09 da semana passada. No caso do diesel, o preço médio de dois anos é R$ 3,82 por litro, contra R$ 4,80 na semana passada.

Executivos ouvidos pela Folha ressaltam, porém, que a valorização do petróleo e a desvalorização do real podem engolir rapidamente o desconto, já que há especialistas prevendo que as cotações cheguem a US$ 90 até o fim do ano — nesta terça-feira (6), o barril do tipo Brent estava sendo negociado a pouco mais de US$ 80.

A proposta de Lira enfrenta resistência dos estados, tanto pela ingerência sobre as legislações estaduais quanto pelo potencial de perda de arrecadação caso o preço de referência para a cobrança do imposto seja mesmo reduzido. Municípios, que têm direito a parte da arrecadação, também são contra.

"Já estive do outro lado do balcão, como ministro da Fazenda, mas nunca me ocorreu uma possibilidade tão extravagante quanto passar a conta para os estados, que é o que estão tentando fazer, no momento", afirmou em redes sociais o secretário de Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles.

Ele defendeu a proposta de criação de um fundo de estabilização de preços, também em discussão no Congresso, que ajudaria a segurar os movimentos de alta ou queda abrupta do mercado internacional. "Para estabilizar esse preço, não faz sentido jogar para o elo mais frágil, que são os estados. Cabe ao governo federal resolver esse problema."

"Entendo que os governadores vão orientar suas bancadas para não aprovar isso", diz o presidente da Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes), Paulo Miranda.

Ele destaca que a medida poderia ter efeito positivo neste momento, mas também pode ser prejudicial ao consumidor caso a cotação do petróleo e o dólar caiam no futuro, reduzindo a velocidade dos repasses ao preço final.

O setor de combustíveis defende que o modelo de cobrança de um valor fixo tem o mesmo potencial de reduzir a volatilidade do imposto com a vantagem de limitar fraudes na arrecadação de impostos, já que esse valor seria cobrado apenas dos produtores de derivados de petróleo.

O Instituto Combustível Legal calcula que cerca de R$ 14 bilhões são sonegados todos os anos com estratégias como a abertura de empresas laranja para não recolher os impostos ou a venda de produtos em estados diferentes daqueles onde foi emitida a nota fiscal.

Ainda assim, dizem as fontes, o principal vilão do preço dos combustíveis continua sendo o dólar caro e, por isso, os preços não cairão enquanto durar o cenário de instabilidade política e fiscal que colocou o real entre as moedas que mais perdeu valor em relação ao dólar desde o início da pandemia.

Fonte: O Globo