Produtores vão a Bolsonaro pedir aumento da mistura de biodiesel no diesel

 quinta, 02 de dezembro 2021

Produtores vão a Bolsonaro pedir aumento da mistura de biodiesel no diesel

Os produtores de biodiesel estão tentando marcar uma reunião ainda esta semana com o presidente Jair Bolsonaro para expor os impactos da decisão tomada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de fixar a mistura do biocombustível no diesel fóssil em 2022 em 10%. O setor reclama de desinformação por parte do governo federal para adotar tal posição, considerada “inesperada e inexplicável”, e acredita na reversão da medida, sem descartar uma ação na Justiça para isso.

“Para nós, efetivamente, é inesperado tudo isso. A resolução do CNPE já nos autorizava a produzir para mistura de 13% desde março, e as empresas se prepararam para isso”, disse o presidente do Conselho de Administração da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), Francisco Turra, ao Valor.
Segundo previsto em lei, a mistura passaria para 14% a partir de março de 2022. O ex-ministro da Agricultura disse que a decisão de manter a mistura 10% contraria o discurso feito pelo governo na COP26, em Glasgow, em defesa dos programas de descarbonização e de energia limpa.
“O emprego verde, que foi proclamado em prosa e verso como uma coisa maravilhosa, para onde vai? Vai para outros países, não sei com que cor", pontuou.

Queda de receita
Segundo a Aprobio, a manutenção da mistura em 10% (aquém dos 13% já previstos e dos 14% estimados para 2022) vai encolher o faturamento das usinas em US$ 2,5 bilhões. Outros US$ 1,2 bilhão serão gastos para importar diesel fóssil para substituir esse percentual que deixará de ser abastecido com o biocombustível nacional. A produção será de 30% a 40% menor que o projetado — ficando em 6,2 bilhões de litros, ao invés de subir para 8,6 bilhões.

“O Brasil não á autossuficiente em diesel e vai ter que importar mais. Diesel significa poluição, gás carbônico. Se o Brasil produz biocombustíveis, qual é o interesse?”, questionou.

Turra disse que o argumento de que a mistura com biodiesel aumenta o preço final do combustível aos consumidores não se sustenta. Segundo ele, há desinformação sobre o assunto na equipe econômica e na Casa Civil. “Esse argumento do temor do preço não tem consistência, o impacto é insignificante”, disse.

Desinformação sobre preços
Nas contas do setor, o biodiesel teve participação de 13,7% na formação do preço final do diesel vendido nas bombas em outubro. No início do ano, o percentual era de 13,6%. “Variou apenas 0,1 ponto percentual de janeiro a outubro. O aumento aconteceu, de fato, no diesel fóssil. É inexplicável e vemos que há resistência da área econômica e da Casa Civil do governo, mas tem desinformação”, avaliou.


O presidente do conselho da Aprobio ainda alertou que o corte na mistura do biodiesel em 2022 poderá refletir em diversos elos da cadeia. “Estamos falando na maior safra de soja da história no Brasil, Estados Unidos e Argentina. Vai sobrar e vamos ter uma série de problemas, até mesmo para o produtor de soja. Estamos complicando a vida do agricultor”, argumentou. Segundo ele, está “enganado” quem pensa que a China e demais países asiáticos irão importar mais do que 100 milhões de toneladas.

Com esmagamento menor, além da ociosidade e dos prejuízos nas usinas, será produzido menos farelo de soja, usados nas rações animais. “Com menos volume, haverá pressão de preço, que se reflete na mesa do consumidor brasileiro”, relatou.
Para ler esta notícia, clique aqui.

Fonte: Valor Econômico