Petróleo, pandemia seca e agro fazem importação disparar

 segunda, 13 de dezembro 2021

Petróleo, pandemia seca e agro fazem importação disparar

Preços altos de petróleo e derivados, escassez hídrica, pandemia e expectativa de safra recorde de grãos no ano que vem fizeram as importações subirem com força, apesar de uma demanda doméstica mais fraca nos últimos meses. A importação dos itens mais importantes ligados a esses fatores, como combustíveis, energia elétrica, gás, carvão, vacinas, adubos e fertilizantes, somou US$ 45,7 bilhões de janeiro a novembro deste ano e explica pelo menos 36% do aumento dos valores desembarcados em relação ao ano passado e 41% contra 2019, sempre considerando o mesmo período de cada ano. Em novembro, quando um aumento maior que o esperado da importação ficou mais claro e chegou a gerar déficit atípico para o mês, esses itens contribuíram com 59% da alta de desembarques.

Com total de US$ 199 bilhões de janeiro a novembro deste ano e alta de 39% contra igual período do ano passado, as importações deixaram de ser reflexo da demanda interna em 2021. Na comparação com 2019, período pré-pandemia, a alta é de 15,2%. O aumento de desembarques aconteceu a despeito da desvalorização do real. A cotação média do dólar de janeiro a novembro de 2021 está 4,1% acima na comparação com 2020 e 36,6% superior à de 2019, sempre considerando o mesmo intervalo de cada ano.

O efeito mais imediato do impacto das importações “atípicas” é o achatamento do superávit comercial de 2021 e de 2022. Segundo analistas, as questões conjunturais que hoje pressionam as importações podem perdurar ao menos até o primeiro semestre do ano que vem e algumas podem mudar o padrão dos desembarques.

Embora bem menor do que chegou a ser esperado em meados do ano, quando os preços de minério de ferro contribuíram para elevar as exportações, o resultado da balança em 2021 ainda deve ser robusto. A situação do balanço de pagamentos ainda continua sendo confortável,aponta Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para ele, fatores hoje conjunturais trazem oportunidades e demandam medidas que, caso não sejam aproveitadas e estabelecidas, podem resultar em problemas estruturais no médio e longo prazos (ver texto abaixo).

Segundo Yasmin Riveli, economista da Tendências, a evolução mais recente da importação, “que realmente causa espanto”, contribuiu para a consultoria reduzir a estimativa de superávit comercial de 2021 de US$ 66,4 bilhões do início do mês passado para os atuais US$ 59,3 bilhões para 2021.
É um resultado sustentado principalmente pelo desempenho da balança até o terceiro trimestre, frisa a economista. As importações, diz ela, geralmente são bastante ligadas à evolução da demanda. “O cenário atual destoa do contexto macroeconômico preocupante, com incertezas, recomposição lenta da renda e do mercado de trabalho e perda de ritmo da indústria." Para ler esta notícia, clique aqui.

Fonte: Valor Econômico