Petrobras quer elevar preço do gás natural em até quatro vezes em 2022

 quinta, 11 de novembro 2021

Petrobras quer elevar preço do gás natural em até quatro vezes em 2022

A Petrobras propôs aumentar entre duas e quatro vezes o preço do gás natural no ano que vem, nos novos contratos que a estatal está negociando com as distribuidoras estaduais. Se o reajuste se confirmar, deverá ser repassado para o consumidor final de gás canalizado.

A Abegás, representante das concessionárias de gás, pretende entrar com uma representação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), contra a petroleira, e pede que as bases dos contratos vigentes sejam mantidas. A informação é do jornal Valor Econômico.

O ano de 2022 deve marcar a entrada de novos fornecedores de gás no Brasil: Shell e Petrorecôncavo já assinaram contratos com a Copergás (PE) e Potigás (RN), respectivamente, enquanto outras quatro empresas (Compass, Equinor, Galp e Origem) estão em negociações finais com outras concessionárias do Nordeste, por exemplo.

A abertura do setor, porém, deve ser ofuscada pelos novos termos da Petrobras, na avaliação de analistas. A expectativa é que algumas distribuidoras consigam repassar aos consumidores os ganhos obtidos com melhores condições contratuais negociadas com os novos fornecedores.

Diferentes prazos e valores
Na maioria dos Estados, porém, a Petrobras ainda é a principal alternativa de suprimento e, nesses casos, a previsão é de que haja um aumento expressivo nas tarifas em 2022 — na contramão do "choque de energia barata" prometido pelo governo com a abertura do setor.

Segundo a Abegás, a Petrobras apresentou propostas de contrato com diferentes prazos de validade e valores.

Para os acordos mais curtos, de seis meses a um ano, o aumento proposto pode ser de até quatro vezes, aproximando os preços internos da realidade das cotações internacionais de gás natural liquefeito (GNL) — que têm sido bastante pressionados pela crise energética da China e Europa.

Com isso, o preço da molécula do gás praticado pela estatal, no país, de US$ 8 o milhão de BTU (unidade térmica britânica), pode subir para níveis de US$ 35 o milhão de BTU no início do ano que vem. Nos contratos mais longos, de quatro anos, o preço do gás pode dobrar.

O Valor apurou que, nos contratos mais longevos, a Petrobras ofereceu uma opção de diferimento. Dessa forma, as distribuidoras poderão diluir o aumento esperado para 2022 ao longo dos anos seguintes.

De acordo com uma fonte da estatal, a expectativa é que, de fato, haja um pico nos preços no início do ano que vem, mas que os valores cobrados voltem a ceder ainda em 2022, à medida que o mercado global se normalize.

Já para o diretor de estratégia e mercado da Abegás, Marcelo Mendonça, ao oferecer uma opção menos impactante, nos contratos de quatro anos, a Petrobras pode acabar direcionando as distribuidoras para acordos mais longos e, assim, prejudicar a abertura do mercado.

Corrida para fechar contratos
"Um contrato desse tipo [de mais longo prazo] fecharia o mercado por mais quatro anos, impediria a abertura do mercado. É uma condição que preocupa muito. A Petrobras está exercendo seu poder de mercado e colocando uma situação em que as distribuidoras não teriam opção de aquisição junto a outras empresas. O que temos visto é que o termo de compromisso com o Cade não tem conseguido limitar o poder dominante da Petrobras”, afirma Mendonça.

A maior parte do volume das concessionárias para 2022 está descontratada e as empresas estão numa corrida para fechar novos contratos até o fim do ano.

Mendonça estima, no entanto, que os novos fornecedores teriam condições de atender, nesse momento, no máximo, 5 milhões de metros cúbicos diários (m3/dia) — cerca de 12,5% de toda a demanda não térmica das distribuidoras em outubro.

Ou seja, mesmo com a entrada de novos atores, as concessionárias seguem dependentes da Petrobras.

Uma fonte da estatal, no entanto, alega que, em função da venda de campos produtores e do arrendamento do terminal de GNL da Bahia, a companhia tem hoje uma capacidade mais limitada de suprimento e depende mais do GNL importado para abastecer o mercado - daí a necessidade, diz, de atrelar os novos preços à realidade de estresse do mercado global.

O volume hoje nas mãos de terceiros, por outro lado, conta a fonte, daria a conta de suprir a demanda não atendida pela Petrobras.

Procurada pelo Valor, a Petrobras esclareceu que, nas negociações em curso com as distribuidoras, considera a sua disponibilidade de gás e que, em função dos compromissos com o Cade, para abertura do mercado, “as ofertas de gás pela Petrobras são restritas, observando as efetivas disponibilidades da companhia”.

A empresa alega ainda que a importação de GNL é indispensável para atendimento ao mercado previsto para o ano de 2022, e aos compromissos já assumidos.

Fonte: O Globo