Nova aposta do governo Bolsonaro em térmicas deixará conta de luz mais cara ao menos até 2025

 segunda, 27 de setembro 2021

Nova aposta do governo Bolsonaro em térmicas deixará conta de luz mais cara ao menos até 2025

Conhecido por explorar bem seu potencial hídrico para a geração de energia elétrica, o governo decidiu, para afastar o risco de apagão em ano eleitoral, concentrar sua estratégia na expansão da energia termelétrica, em vez de apostar em outras fontes renováveis. Como consequência, até 2025, pelo menos, a matriz energética terá uma participação maior de fontes mais poluentes, e o consumidor enfrentará custos mais elevados.

Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), estudos e simulações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que o acionamento das térmicas entre janeiro e novembro deste ano custará R$ 13,1 bilhões. Isso será compensado na conta de luz. E novos negócios estão surgindo: até 2026, estão previstos investimentos de R$ 12 bilhões em usinas térmicas no país.

Em outubro, o MME fará um leilão, em processo simplificado, para compra de adicional de energia, com prazo previsto para abril de 2022 a dezembro de 2025 e possibilidade de entrega antecipada. Isso é necessário para recompor o nível dos reservatórios das hidrelétricas. Mas o impacto na conta de luz deverá ser ainda maior.

Poderão participar do leilão térmicas a gás com custo de até R$ 750 por megawatt-hora (MWh) e a óleo diesel e óleo combustível de até R$ 1 mil/MWh. A fatura sairá mais cara do que os leilões anteriores, mas o governo argumenta que o “prazo desafiador” para entrada em operação resulta em custo mais alto. E aposta que ampliar a concorrência possa segurar os preços.

Em agosto, para efeito de comparação, o preço de referência do leilão para térmicas foi de R$ 266,86/MWh. No Ambiente de Contratação Regulada (ACR), onde as compras se dão por leilões, despacho do ano passado definia o valor médio do ACR em R$ 253,50/MWh para 2021. Fontes renováveis, como eólica e solar, têm preço médio de R$ 150/MWh.

A estratégia vai manter o patamar da produção de energia termelétrica acima da casa dos 20% por mais tempo. Diogo Lisbona, pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ceri), lembra que a participação das termelétricas começou a avançar após o racionamento de 2001. Pelos dez anos seguintes, essa produção esteve no patamar de 9%, subindo a partir de 2012. Este ano, a média está em 21%.

— Neste momento de crise, as termelétricas chegam a responder por 32% da geração, e as hidrelétricas estão no menor patamar, por volta de 50% — diz Lisbona.

Com isso, os investimentos em usinas térmicas vêm crescendo. Pelo menos 19 unidades novas estão sendo construídas, e outras estão sendo reformadas, religadas ou adiantadas. Só as usinas em construção vão adicionar 5.080MW ao Sistema Interligado Nacional até 2026.

— O parque térmico brasileiro é antigo, mas é uma alternativa fundamental com a crise hídrica e a intermitência das fontes solar e eólica. A despeito de ser uma energia mais cara, ela dá segurança e garantia de suprimento ao sistema — diz Gustavo Carvalho, gerente de Preços e Estudos de Mercado da Thymos, consultoria especializada em energia.

Até 2026, estão previstos investimentos de R$ 12 bilhões em usinas térmicas no país. Desse total, pelo menos R$ 4 bilhões serão utilizados no retrofit de unidades antigas. A maioria das novas usinas térmicas vai operar com gás, especialmente do pré-sal, como fonte de energia.

Luiz Barata, consultor do Instituto Clima e Sociedade (iCS), ressalta que é possível remodelar usinas térmicas antigas, a óleo e carvão, para gás, para tentar baixar o custo. Mas afirma que, com os preços dos novos leilões, é difícil conter a escalada do preço. Ele critica a opção pelas termelétricas — que demoram mais tempo para entrar em operação, são mais caras e mais poluentes — e diz que o país deveria apostar nas fontes renováveis bem planejadas e operadas.

Fonte: O Globo