Montadoras deixaram de produzir mais de 100 mil veículos no país por falta de semicondutores

 quinta, 08 de julho 2021

Montadoras deixaram de produzir mais de 100 mil veículos no país por falta de semicondutores

A falta de semicondutores fez a indústria automotiva brasileira deixar de produzir entre 100 mil e 120 mil veículos no primeiro semestre deste ano.

A estimativa é de Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, associação que representa as montadoras, com base em um estudo da consultoria Boston Consulting Group (BCG).

O problema impediu uma recuperação ainda maior do setor, cuja produção cresceu 57,5% na primeira metade de 2021 e tudo indica que seguirá atrapalhando o funcionamento das fábricas e a oferta de carros zero nas concessionárias este ano.

Segundo o estudo, em toda a América do Sul, deixaram de ser produzidos 162 mil veículos de janeiro a junho deste ano. Para este ano, a Anfavea reduziu as projeções de vendas e de produção.

— Como o Brasil representa cerca de 80% da produção da América do Sul, o país deixou de produzir entre 100 mil e 120 mil unidades no primeiro semestre - afirmou Moraes.

Na segunda-feira passada, a Hyundai Motor Brasil anunciou que vai paralisar totalmente sua produção na fábrica de Piracicaba, em São Paulo, devido à falta de semicondutores.

Na semana passada, a empresa havia informado que manteria ao menos um turno funcionando. A previsão agora é que a linha de montagem que produz a família HB20 e o Creta só volte a operar em12 de julho, quando voltam a funcionar o segundo e o terceiro turnos. O primeiro retorna logo depois, no dia 15.

Por causa de interrupções na produção como essa, o consumidor que procura carros zero quilômetro para comprar ainda está enfrentado fila de espera nas concessionárias.

Impacto global
A BCG estima que, em 2021, entre 5 milhões e 7 milhões de veículos deixarão de ser produzidos no mundo pela falta de semicondutores.

O problema, segundo a BCG, só deve ser reduzido em 2022. Apenas no primeiro semestre deste ano, a consultoria estima que 3,6 milhões de veículos não puderam sair das linhas de produção.

Quando a indústria automotiva parou, no ano passado, por causa da pandemia, os semicondutores foram direcionados a outros setores que ganharam força com a mudanças de hábitos trazidas pela Covid-19, como os de computação e de eletreletrônicos, por exemplo.

Ess produtos de consumo em casa foram mais demandados com o isolamento social e trabalho remoto que os automóveis, cujos fabricantes tiveram muitas unidades paralisadas no auge das medidas de isolamento. Quando voltaram a funcionar, enfrentaram a falta destas peças.

Dificuldades no fornecimento de aço e pneus
Moraes destaca que, além da falta de peças, houve também problemas de logística na entrega de componentes e insumos, como o aço. Atualmente, a Anfavea monitora a falta de pneus, disse o presidente da entidade.

A Anfavea reviu para baixo suas projeções de vendas e produção para este ano. Os emplacamentos previstos para 2021, segundo a entidade, devem chegar a 2,32 milhões frente aos 2,37 previstos no início do ano.

Já a produção deve ficar em 2,46 unidades frente às 2,52 milhões previstas anteriormente. Segundo Moraes, as estimativas foram refeitas considerando a falta de semicondutores:

— Mesmo que o problema da falta de semicondutores fosse solucionado este ano, não teríamos um crescimento substancialmente mais alto da produção e das vendas.

Produção subiu 57,5% no 1º semestre
No Brasil, a Anfavea divulgou que a produção de veículos em junho foi de 166,9 mil unidades, uma queda de 13,4% em relação a maio, quando 192,8 mil unidades foram produzidas.

No semestre, a produção chegou a 1,148 milhão de unidades, um crescimento de 57,5% em relação ao mesmo período de 2020, quando a pandemia interrompeu o trabalho em muitas linhas de produção, especialmente no segundo trimestre.

— A produção de veículos perdeu o ritmo em junho devido à paralisação de diversas unidades. Vinha se mantendo na casa de 190 mil unidades por mês — disse Moraes.

Anfavea cobra reforma tributária mais ampla
Para o presidente da Anfavea, o governo vai na direção certa com suas propostas recentes para a reforma tributária, mas precisa ampliá-las.

No imposto sobre o consumo, por exemplo, que prevê a união do PIS e do Cofins, criando um tributo sobre valor agregado, com o nome de Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), Moraes avalia que, de alguma forma, o ICMS, imposto estadual, deveria ser incluído.

Ele ponderou que o imposto já é um dos principais sobre o setor automotivo, levando ao pagamento de uma carga tributária mais alta que outros setores da economia.

— Entendo a dificuldade de se fazer essa reforma, mas ela precisa ser mais ampla, embora não possa gerar aumento de carga tributária, que já é alta para no setor - diz Moraes.

Já em relação à redução do Imposto de Renda para as empresas, o IRPJ, Moraes avalia que é positivo fazer a conpensação com a tributação de dividendos.

Segundo ele, isso acontece em boa parte dos países, embora seja nececessário calibrar as alíquotas para não haver aumento de carga.

Mas ele observa, por exemplo, que a tributação sobre importações e exportações entre empresas do mesmo grupo não foi tratada pelo governo. Também não foi tratada a compensação de prejuízos.

— Se temos prejuízos num ano e lucro em outro, só se pode fazer uma compensação de até 30% das perdas. Para pagar o imposto não tem limite, mas para compensar o prejuízo o limite é de 30% — reclamou.

Fonte: O Globo