Mais um aperto nos juros

 quinta, 05 de maio 2022

Mais um aperto nos juros

Dando-se conta de que a segurança de um voo começa com um rigoroso plano de voo, o Banco Central entendeu já em fevereiro que deveria adiantar em 44 a 48 dias o que faria com os juros. E é, em princípio, a melhor maneira de coordenar as expectativas dos formadores de preços por toda a economia.

O problema é que as condições da economia não se têm comportado como previsto. Assim, o Banco Central vem sendo obrigado a rever seus planos.

inflação, mais renitente e mais espalhada, vem surpreendendo não só o mercado, mas também os guardiões da moeda. Desta vez, o Banco Central foi mais enfático ao apontar como causa da inflação a desordem fiscal. Mas também avisou que a alta das commodities pode ficar para trás.

A disparada surpreendente dos preços foi o fator que impediu o fim do ciclo de alta dos juros, uma das mais importantes caçapas cantadas pelo regulador na reunião de março. Nesta quarta-feira, os juros básicos (Selic) foram aumentados em mais 1 ponto porcentual, para 12,75% ao ano.

Assim, o Comitê de Política Monetária (Copom) cumpriu sua promessa de aumentar a Selic em 1 ponto, mas teve de rever os passos seguintes, para novos aumentos da Selic, embora de “menor magnitude”, sem, no entanto, antecipar nem o tamanho da magnitude nem o fim do ciclo de aperto. Fica tudo sujeito ao comportamento das intempéries.

O mais importante banco central do mundo, o Federal Reserve (Fed, dos Estados Unidos) também teve de sair do seu rame-rame. Nesta quarta-feira, recompôs seus juros básicos (Fed funds) em mais 0,5 ponto porcentual, dosagem que não aplicava de uma vez desde o ano 2000. E seu presidente, Jerome Powell, avisou que o Fed passaria a retirar devagar os trilhões de dólares injetados na economia para ajudar a enfrentar a crise. O tom geral da mensagem é de que é mais pelo pouso suave do que pelo regime de pancadas.

É provável que outros grandes bancos centrais trabalhem em ritmo equivalente, porque a inflação está generalizada e propaga-se a percepção de que aumentam os riscos na economia mundial, especialmente as incertezas produzidas pela guerra na Ucrânia e pela provável suspensão da compra de petróleo da Rússia pela União Europeia.

Uma das razões pelas quais as cotações do dólar em relação ao real caíram dos R$ 5,75, onde já estiveram no  fim de dezembro, para abaixo dos R$ 5,00, alcançados entre março e abril , foi a de que o Banco Central do Brasil iniciou antes do que os demais o ataque à inflação de custos que começou com a pandemia e que se acentuou com a guerra na Ucrânia. Mas a trajetória do câmbio também continua incerta.

Fonte: Estadão