Inmetro diz que orçamento para 2021 não permite fiscalizar combustíveis como quer Bolsonaro

 terça, 27 de abril 2021

Inmetro diz que orçamento para 2021 não permite fiscalizar combustíveis como quer Bolsonaro

O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), vinculado ao Ministério da Economia, enviou um ofício ao presidente Jair Bolsonaro afirmando que os cortes no orçamento do órgão para 2021 inviabilizam a aperfeiçoamento da fiscalização das bombas de combustível.

Esse aperfeiçoamento foi uma determinação do próprio Bolsonaro, que considera que existem fraudes que tornariam o preço do combustível mais caro.

"Com o novo cenário restritivo, acrescentado das demandas encaminhadas pela Presidência da República no que se refere ao endurecimento/aperfeiçoamento à fiscalização das Bombas Medidoras de Combustível - BMC, o nosso orçamento atual não comporta as despesas necessárias para implantação dos projetos imprescindíveis para o cumprimento efetivo da determinação presidencial, bem como manutenção das despesas de custeio para atividades realizadas in loco", diz o documento, assinado pelo presidente do Inmetro, Marcos Heleno Guerson de Oliveira Junior.

O ofício foi enviado no dia 16, antes da sanção do Orçamento de 2021, realizada na semana passada. Os vetos feitos por Bolsonaro, contudo, não afetaram o Inmetro. Na sexta-feira, a demanda do instituto foi encaminhada para o Ministério da Economia, que ainda não respondeu.

O órgão pede mais R$ 178,3 milhões e diz que "a falta deste recurso compromete de sobremaneira o equilíbrio nas contas do Inmetro, com risco à judicialização dos nossos contratos e convênios".

No ofício, o presidente diz que o orçamento do Inmetro ficou em R$ 290 milhões. Segundo dados disponibilizados pelo Ministério da Economia, contudo, o valor disponível é de R$ 370,1 milhões.

Procurado, o instituto afirmou, em nota, que o valor de R$ 290 milhões se refere a uma versão preliminar do Projeto de Lei Orçamentária (PLOA). O Inmetro diz que solicitou um um complemento de R$180 milhões e que o pedido foi atendido parcialmente pelo Ministério da Economia, com um aporte de R$ 80 milhões.

"O Inmetro entende o momento difícil que o país atravessa em termos de orçamento e ajuste fiscal, mas reforçou junto ao ME a solicitação de recompor o orçamento para apoiar o funcionamento do mercado e setor produtivo dentro de sua visão estratégica para o período de 2021-2023", diz a nota.

Presidente cobrou fiscalização
Em fevereiro, um dia após anunciar a troca de comando na Petrobras, Bolsonaro cobrou uma maior atuação do Inmetro e de outros órgãos na fiscalização do preço dos combustíveis. De acordo com o presidente, o preço poderia ser reduzido em 15%.

— Hoje em dia eu acho que a gasolina, o combustível, poderia ser, no mínimo, 15% mais barato, se todos os órgãos estivessem funcionando. Quem são todos os órgãos? Os órgãos de fiscalização ou de colaboração para fiscalizar — afirmou, citando, além do Inmetro, a Petrobras, o Ministério de Minas e Energia e a Receita Federal.

Alguns dias depois, o Inmetro informou que estava articulando ações com outros órgãos para intensificar a fiscalização. O órgão também disse que estava em fase de implantação da certificação digital das bombas medidoras de combustíveis em todo o país.

Investimento em novas tecnologias
No ofício enviado a Bolsonaro, o instituto reforça que está "estruturando iniciativas para a implementação dos projetos para o aprimoramento das ferramentas para realização da fiscalização em Bombas Medidoras de Combustível".

Entretanto, o texto diz que "com o cenário restritivo proposto, limite orçamentário de R$ 290.132.556, o Inmetro não alcançará as determinações da Presidência da República".

O órgão pede mais recursos para investir em novas tecnologias, como um laboratório próprio onde faria testes para identificar novas formas de combater fraudes (com um custo estimado de R$ 5 milhões) ou um mecanismo que, por meio de conexão Bluetooth compararia a quantidade de combustível no tanque dos carros com o que foi enviado pela bomba (que custaria R$ 1,5 milhão).

Para realizar as atividades de fiscalização presencial, a estimativa de gasto de é R$ 28 milhões.

"Os fraudadores são numerosos e dispersos geograficamente, o que dificulta o combate por parte das entidades de supervisão de mercado. Além disso, lançam mão de avanços tecnológicos para sofisticarem a sua prática. Para que tenha meios de evitar o enorme prejuízo para a sociedade, o Inmetro precisa de recursos para também de ter acesso à tecnologia e atuar com base em informações de inteligência", diz o ofício.

Fonte: O Globo