Inflação 'surpreende' BC e mercado prevê nova alta dos juros

 terça, 12 de abril 2022

Inflação 'surpreende' BC e mercado prevê nova alta dos juros

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu ontem que o resultado do IPCA – índice oficial de inflação – surpreendeu em março e indicou que vai avaliar o movimento para ver se altera a tendência observada pelo Comitê de Política Monetária (Copom). No mercado financeiro, a percepção é de que as declarações aumentam a chance de as altas da Selic – a taxa básica de juros – continuarem além do encontro de maio, para o qual o BC já sinalizou aumento de 1,00 ponto porcentual, de 11,75% para 12,75% ao ano.

Em evento do Traders Club e da Arko Advice, Campos Neto citou que grande parte da surpresa com o IPCA de março (1,62%) ocorreu devido a um repasse mais rápido do megarrea-juste dos combustíveis das refinarias para as bombas, algo em alguma magnitude antecipado pelo BC. Mas admitiu que também houve aumento acima do esperado em itens como vestuário e inflação fora do domicílio. O IPCA superou o teto da pesquisa do Projeções Broadcast e registrou a maior taxa para o mês desde 1994, antes do Plano Real. Em 12 meses, a inflação oficial acumula 11,30%.

“Estamos analisando as surpresas e vamos ver se muda algo na tendência. As surpresas se apresentaram também em outros países, em diferentes magnitudes. A realidade é que nossa inflação está muito alta. Os núcleos estão muito altos. Temos comunicado com a maior transparência possível nosso processo de enfrentamento a essa inflação mais alta e persistente. É um tema que vamos discutir nos próximos dias”, afirmou.

Em outro momento, Campos Neto reforçou que o BC está sempre aberto a reavaliar o cenário, se entender que houve mudança, como diz sempre nos comunicados.

As declarações do presidente do BC foram lidas por parte do mercado como uma mudança de comunicação em relação aos próximos passos da política monetária. O BC vinha sinalizando que o plano de voo era encerrar o ciclo de alta de juros em maio, com a Selic em 12,75% ao ano. Mas agora os especialistas veem a porta mais aberta para a elevação continuar em junho, algo que já era esperado por parte do mercado.

A economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, afirma que “ficou bastante claro” com a declaração de Campos Neto que “as portas não estão fechadas para alta de juros depois da próxima reunião”. “É algo bem diferente da comunicação prévia.”

Solange já esperava que o ciclo continuasse em junho e agosto, com a Selic terminando o processo em 14%, considerando dados mais altos de inflação e expectativas inflacionárias também avançando.

Depois das declarações de Campos Neto, a economistachefe da Armor Capital, Andrea Damico, alterou a projeção para o fim do ciclo da taxa Selic de 12,75% para 13,75%, prevendo, além da alta de 1 ponto porcentual já indicada pelo BC em maio, mais dois aumentos de 0,50 ponto porcentual em junho e agosto. •

Fonte: O Estado de S. Paulo