Distribuidoras de combustíveis pedem mudanças no mercado de CBIO

 terça, 19 de abril 2022

Distribuidoras de combustíveis pedem mudanças no mercado de CBIO

Um grupo de dez distribuidoras regionais de combustíveis enviou nesta segunda-feira (18/04) um ofício ao Ministério de Minas e Energia, com sete pedidos de mudanças no funcionamento do mercado de créditos de descarbonização do programa RenovaBio (CBIOs).

O documento aponta para o que as empresas entendem ser uma série de “deficiências estruturais” no programa e que ajudam a encarecer em até dez centavos o preço dos combustíveis no Brasil e podem levar as distribuidoras regionais à falência.

O pedido ocorre em meio às discussões no MME sobre a criação de um mercado de derivativos para os CBIOs e da alta dos preços dos créditos no mercado brasileiro. No início de março, os CBIOs chegaram a R$ 101,50 por título, maior cotação nominal desde o início das negociações, em junho de 2020.

Esta não é a primeira vez que as distribuidoras regionais pressionam por mudanças no RenovaBio. Em 2020, a Brasilcom, que representa os interesses das pequenas empresas do setor, entrou na Justiça para que suas associadas pudessem cumprir apenas 25% da meta estabelecida pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), por entenderem que as condições para entrada em vigor do mercado não foram adequadas naquele ano — marcado pela eclosão da pandemia de covid-19.

Os produtores de etanol, grandes emissores de CBIO, contestam o argumento de que a alta nos preços dos créditos seja fruto de uma oferta menor do produto no mercado ou de um estoque por parte das usinas. Para a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) “está tudo dentro da normalidade”.

O que pedem as distribuidoras?
Obrigar os emissores de créditos de descarbonização a vender os CBIOs dentro de um prazo condizente com o período de obrigatoriedade de aquisição pelas distribuidoras. As empresas alegam que precisam adquirir os CBIOs dentro do ano em curso, mas que os emissores disponibilizam o título apenas no momento que julgam mais adequado. Essa assimetria cria incentivos à especulação;
Reduzir pela metade as metas anuais impostas às distribuidores para 2022, devido ao aumento exponencial do preço do CBIO. As companhias defendem que as obrigações não condizem com a receita obtida em 2021 e provisionada para a compra dos créditos em 2022 e que as metas atuais causarão um impacto devastador no caixa das empresas;
Reduzir as metas globais das distribuidoras do ano de 2023 e dos anos subsequentes para abaixo dos limites mínimos de cada ano;
Investigar o que o grupo aponta ser indícios de fraudes e manipulações nos preços dos CBIOs;
Retirar a possibilidade de compra de CBIOs por partes não-obrigadas;
Estudar projeto legislativo que obrigue produtores e importadores, e não distribuidoras, a comprar os CBIOs;
Aumentar a transparência dos recursos direcionados aos produtores de biocombustíveis, bem como avaliar dos resultados dessas transferências.
Quem assina o documento

Biopetro Distribuidora de Combustíveis (SP)
Distribuidora Rio Branco de Petróleo (MG)
Federal Energia (PE)
GP Distribuidora de Combustíveis (PR)
Petroexpress Distribuidora de Combustíveis e Derivados de Petróleo (SP)
Petroluz Distribuidora (MT)
Redepetro Distribuidora de Petróleo (SP)
Small Distribuidora de Derivados de Petróleo (SP)
Taurus Distribuidora de Petróleo (MS)
Triângulo Distribuidora de Petróleo (SP)
O que são os CBIOs?
O CBIO é um crédito de descarbonização de compra obrigatória pelas distribuidoras de combustíveis. O rateio é proporcional à venda de derivados de petróleo.

A emissão dos CBIOs, por sua vez, é feita por produtores de combustíveis renováveis, como etanol (a principal fonte), biodiesel e biometano.

Os créditos funcionam como um dos pilares do RenovaBio, programa de descarbonização do setor brasileiro de transportes. Pela metodologia do programa, cada CBIO corresponde a 1 tonelada equivalente de carbono.

As distribuidoras precisam reter o crédito de descarbonização no fim dos ciclos anuais para comprovação das metas, etapa chamada de aposentadoria.

Antes disso, os CBIOs podem ser negociados no mercado de balcão da B3 e comprados por outros investidores, sem obrigação de descarbonização dentro do RenovaBio.

Em 2021, as distribuidoras aposentaram 24,4 milhões de CBIOs, o correspondente a 96,8% do total das metas individuais atribuídas pela ANP e 98,2% da meta global estabelecida pelo CNPE para o ano passado. Das 142 distribuidoras, 118 cumpriram integralmente ou acima de 85%.

MME estuda formas de conter oscilações do CBIO
O Ministério de Minas e Energia avalia uma alteração na Portaria 419/2019, que regulamenta a negociação dos CBIOs, para possibilitar um mecanismo de compra e venda futura dos créditos. O objetivo é proteger as partes envolvidas (emissores e compradores de CBIOs) de oscilações bruscas nos preços do ativo.

O governo propõe quatro alterações:

Determinar que o escriturador seja cadastrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM);
Exigir da entidade registradora que deseje iniciar a oferta de registro do CBIO, a comprovação de interoperabilidade com as entidades registradoras que já operam com os CBIOs;
Incluir previsão de prestação de informações individualizadas, ao MME e Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), pelas entidades registradoras acerca das negociações existentes em suas plataformas;
Determinar que as instituições financeiras operem como contrapartes sem a necessidade de não identificação, como deve ocorrer entre emissores primários e compradores de CBIOs, com objetivo de implantar modalidade de compra e venda futura de CBIOs.

Fonte: EPBR