Contra crise hídrica, deputados querem subsídio para geração própria de energia

 segunda, 07 de junho 2021

Contra crise hídrica, deputados querem subsídio para geração própria de energia

Membros da Comissão de Minas e Energia da Câmara querem destravar nos próximos dias a votação do projeto que cria regras para micro e minigeradores, como uso de energia solar para consumo próprio de empresas e residências.

Deputados argumentam que o incentivo a esses projetos de geração de energia pode desafogar a demanda do sistema elétrico diante do risco de racionamento ou apagão. Entre eles está Christino Áureo (PP-RJ), que é presidente da Frente Parlamentar para o Desenvolvimento Sustentável do Petróleo e Energias Renováveis.

Entidades, como a que representa as empresas distribuidoras de energia, negam que essa proposta resolva o problema da crise hídrica e preveem aumento da conta de luz se o projeto for aprovado.

Hoje, há isenção para essas pequenas instalações de geração de energia. Mas o Ministério da Economia já chegou a defender o fim desses benefícios.

A versão mais atual da proposta, relatada pelo deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), prevê apenas a retirada de parte dos subsídios a esses pequenos geradores de energia, que essencialmente são de luz solar.

O texto está na pauta do plenário da Câmara. Pelo formato mais recente, empresas e residências com esses geradores de energia não pagariam todos os custos do sistema elétrico —custos de distribuição e transmissão de energia nem encargos.

Os encargos são, por exemplo, cobranças que consumidores de energia pagam para ajudar na redução do custo a quem precisa, como população de baixa renda e rural.

Para o presidente da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica), Marcos Madureira, o projeto a ser votado na Câmara pode gerar um impacto de R$ 130 bilhões nos próximos anos.

“Quando eles [microgeradores de energia] não assumem a totalidade dos custos, esses custos serão pagos pelos outros consumidores. Isso vai fazer que exista aumento das tarifas”, disse Madureira.

O ponto de maior debate é que a manutenção dos subsídios ao setor de energia solar favorece especialmente grandes empresas, como bancos, telefônicas, redes varejistas e companhias do agronegócio, além de residências de população de alta renda, que têm recursos para instalar os painéis, segundo o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

“Quem tem geração distribuída [nome técnico dado a esses projetos de geração da própria energia] é quem tem condições de fazer um investimento maior”, argumenta Clauber Leite, responsável pela área de energia do Idec.

Para o relator do projeto, a ampliação do uso da fonte solar faz com que o acionamento das usinas termelétricas, de geração mais cara, seja menos necessário nesse momento de crise.

“É uma grande opção. O projeto dá condições para mais pessoas terem acesso à energia solar”, afirma Andrada.

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), apoiada pelos ministérios de Minas e Energia e Economia, chegou a planejar um cronograma para pôr fim à isenção pelo uso da rede de transmissão.

A discussão, porém, foi barrada pelo governo, diante do discurso de que a proposta iria “taxar o sol”. Isso representou uma derrota ao ministro Paulo Guedes (Economia), que é contra os subsídios a esse tipo de energia. Ele argumenta que apenas os mais ricos se beneficiam dos incentivos.

Em meio ao impasse, Andrada prevê o pagamento apenas de parte dos custos à distribuidora, chamado de Fio-B. Mas manteve a maior parte das isenções.

“O relatório do Lafayette equilibrou bastante essa discussão. Por isso, é positivo aprovar essa proposta. Esses projetos de microgeração [de energia] são rápidos para serem instalados e podem ajudar a diminuir a pressão sobre o sistema”, disse Áureo, defensor da proposta para enfrentar a crise hídrica deste ano.

Ainda não há consenso na Câmara sobre o assunto, o que pode atrasar o plano de votar a proposta nos próximos dias.

A Abradee diz que, apesar de essas empresas e residências produzirem parte da energia usada, elas precisam da rede de energia para que os microgeradores funcionem. Sem a rede, o investimento para instalar a geração de energia solar poderia ser dez vezes maior. Por isso, essas instalações não deveriam ser isentas de cobranças, defende a entidade.

“Somos a favor da energia solar. Não somos a favor de subsídios que ficam de um consumidor para outro pagar”, disse Madureira.

Fonte: Folha de S. Paulo