Os aplicativos de transporte adotam a tarifa dinâmica, que considera a lógica de oferta e demanda. Se há menos veículos disponíveis ou mais passageiros, o preço sobe. Com a alta do combustível, os motoristas tiveram que recorrer à prática de cancelamento de algumas corridas, como admite o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp), Eduardo Lima, para evitar corridas em que ele gasta mais do que recebe. Isso é mais comum no caso daqueles que não têm o kit-gás e recorrem à gasolina ou ao álcool para abastecer o veículo.
Lima argumenta que já houve repasse de aumento de tarifa para o passageiro, mas que isso não tem sido transferido para os motoristas. As plataformas afirmam que fizeram um reajuste no repasse aos motoristas, o que em última instância significa redução da taxa cobrada para conectar passageiros aos condutores. No caso da 99, a diretora de operações e produtos, Lívia Pozzi, esclarece que há informações claras para os motoristas sobre os ganhos. Inicialmente, a plataforma arcou com essa diferença, mas mais recentemente houve repasse aos passageiros nas corridas curtas (embora não classifiquem cada corrida). Já a Uber afirma que não houve reajuste no preço para os passageiros.
Motorista de aplicativo no Rio desde o início da pandemia, quando perdeu o emprego de vigilante, Eduardo Dias, de 32 anos, diz que o trabalho só tem se mantido viável porque usa GNV. “Se a gente não selecionar corrida, acaba trocando dinheiro por dinheiro. O GNV é mais econômico, mas ainda assim aumentou muito”, conta ele.
No Rio, a percepção de maior demanda para os taxistas está cada vez maior. Taxista há mais de duas décadas, Marco Antonio Gomes, de 56 anos, diz que os gastos mensais com combustível cresceram cerca de R$ 300 nos últimos meses. Somado ao aumento dos alimentos, isso significa um custo maior por mês, num momento em que o movimento pré-pandemia ainda não foi retomado.
“Meu lucro caiu muito devido a esses aumentos e ainda não recuperei o que tirava bruto no táxi antes da pandemia. Mas tenho sentido mais procura pelo táxi, tanto pelo Táxi Rio [aplicativo da prefeitura], quanto na rua mesmo. Muito passageiro chega falando que cansou de esperar pelo carro do aplicativo”, afirma.
Diretor do Sindicato dos Taxistas Autônomos do Município do Rio de Janeiro (Stamrj), Vagner Monteiro estima aumento de até 60% no movimento diário da praça nos últimos tempos. Em sua maioria, o motorista do Rio faz o que eles chamam de rolé, ou seja, rodam pelas ruas atrás de passageiros. Com o custo do combustível lá em cima, diz ele, foi preciso mudar um pouco essa prática e o uso do Táxi Rio tem ajudado a reduzir o tempo rodando sem passageiro. “O aplicativo está com demanda tão alta que muitas vezes emendamos uma corrida na outra.”
Líder da Frente Nacional do Táxi (Frennataxi), Alessandro Ruiz Martinez (Fattioli) diz que a piora do serviço do transporte por aplicativo tem ajudado no gradual aumento de passageiros para os táxis, compensando em parte o aumento de custo trazido pela alta do combustível. “Como muitas pessoas ficam na mão, por causa da falta de carros de aplicativos, tem muita gente voltando para os táxis ou até conhecendo pela primeira vez. É um aumento gradual, que dá um certo respiro”, explica.
Moradora do Rio, a professora de inglês Alyne Bittencourt, de 31 anos, perdeu quase meia hora recentemente na tentativa de conseguir um carro de aplicativo, mas acabou desistindo. “Acabei resolvendo pegar o metrô porque já estava de noite e não queria esperar tanto tempo na rua”, afirma.
A maior procura por taxistas também foi percebida na Grande Belo Horizonte. Segundo o Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Minas Gerais (Sincavir), o aumento de passageiros tem se sustentado na casa dos 30% desde julho, com muitos passageiros reclamando sobre corridas canceladas e aumento do tempo de espera nos aplicativos.
Fonte: Valor Economico