Com flexibilização do isolamento, brasileiros voltam a buscar vaga e desemprego sobe a 13,1%

 segunda, 20 de julho 2020

Com flexibilização do isolamento, brasileiros voltam a buscar vaga e desemprego sobe a 13,1%

O fechamento de mais de 1,4 milhão de postos de trabalho na última semana de junho e a maior procura por um emprego por quem foi demitido fizeram a taxa desemprego voltar a subir após três semanas estáveis. Dados da Pnad Covid, divulgados nesta sexta-feira, indicam que 12,4 milhões de brasileiros procuraram uma vaga no fim de junho, acelerando a taxa de desemprego semanal de 12,3% para 13,1%, no maior patamar desde maio, início da pesquisa.
O número de desempregados não vinha subindo, como era esperado diante do tamanho da crise do coronavírus, pela impossibilidade de procurar trabalho. Na metodologia do IBGE, é considerado desempregado apenas quem efetivamente procura emprego e não acha. Quem desiste ou suspende a busca no período coberto pela pesquisa, não entra na estatística.
Economistas afirmam que a alta do desemprego deve ser uma tendência nas próximas semanas. Indicadores como a taxa de isolamento estão caindo a cada dia, enquanto dados de mobilidade urbana apresentam elevação.
À medida que o distanciamento social é flexibilizado, mais pessoas tendem a procurar emprego, mas não encontrarão pelo baixo dinamismo da economia. Com isso, o mercado de trabalho fica mais pressionado.
Mais 2,6 milhões sem trabalho
Desde a primeira semana de maio, o contingente de desempregados no país aumentou em cerca de 2,6 milhões de pessoas. Por outro lado, o número de brasileiros afastados que estão retornando às ocupações ou sendo demitidos cresce. Somente na última semana de junho, 800 mil brasileiros voltaram a trabalhar ou foram dispensados.
— As pessoas estão saindo mais pra procurar emprego por causa do enfraquecimento do isolamento, mas não vão encontrar. A taxa de desocupação tende a subir mais ainda — alerta Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores.

Outros fatores como a diminuição do medo de contágio e o fim do auxílio emergencial e do seguro-desemprego também podem acelerar a alta nos próximos meses, na avaliação de Luciano Rostagno, economista-chefe do Banco Mizuho. Com a única fonte de renda de muitas famílias ficando escassa, a tendência é que mais pessoas saiam de casa na busca por uma vaga.

— Isso tem diminuído a procura por emprego, a pessoa recebendo o auxílio, não tem muito porque ir buscar um emprego agora. Mas os auxílios são temporários, a hora que eles começaram a acabar, essas pessoas vão voltar a procurar — ressalta.

Demitido no final de fevereiro, ainda antes das medidas de isolamento provocadas pela pandemia do novo coronavírus, o motorista Reginaldo Ramos, 53 anos, ficou sem procurar um novo serviço por causa da pandemia. A proximidade do fim do seguro-desemprego, no entanto, fez com que ele retomasse a busca na última semana e recorresse à informalidade enquanto não consegue uma ocupação formal.

— No início, me falavam que era melhor nem entregar currículos porque ia jogar fora. Ninguém estava contratando com a crise. Voltei a procurar, deixar o currículo nos lugares. Eles até pegam, mas não dizem se vão chamar — conta ele, responsável pela única renda da casa com a esposa e três filhos.

Segundo o IBGE, ainda há 17,8 milhões de pessoas fora da força de trabalho que gostariam de estar no mercado, mas não procuraram emprego por causa da pandemia ou por falta de trabalho onde vivem. Se incluídos entre os desocupados, pelo método desenvolvido por pesquisadores do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), da USP, a taxa de “desemprego oculto pelo distanciamento social” seria de 26,8%.

Para Maria Lucia Viera, coordenadora da pesquisa do IBGE, a pandemia vem, cada vez mais, deixando de ser o principal motivo que as pessoas alegam para não ter procurado trabalho. Pessoas como Camilla de Aguiar, 35 anos, demitida em maio de uma empresa no setor de exportação, no Rio de Janeiro, preferem esperar uma melhora da economia para buscar uma nova colocação.

— Não procurei ainda por causa da pandemia. Eu acho que realmente não está tendo vaga. Apesar das empresas na minha área continuarem a operar, vai ser difícil achar uma boa vaga — lamenta.

Na avaliação de Rogério Barboza, pós-doutorando do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), que integra a Rede de Pesquisa Solidária, os números são preocupantes. Ele ressalta que mais 700 mil pequenas empresas fecharam durante a pandemia, segundo o IBGE, e são elas as responsáveis por 40% dos empregos formais do país. Com menos vagas de qualidade na retomada, a saída será a informalidade, cujos rendimentos e proteção sociais são menores.

— Quando o mercado de trabalho se recuperar que empregos vão ter? Muitas empresas estão falidas, principalmente as pequenas e médias empresas. A informalidade vai ser o lugar de reingresso dessas pessoas — destaca.

Uma redução dessa taxa só está no horizonte com a melhora da economia, cuja queda estimada por economistas chega a mais de 9% este ano. Com isso, mais empregos devem ser perdidos nos próximos meses.

Para Imaizumi, em que pese a melhora nos indicadores de atividade econômica, o pior ainda está por vir:

— O fundo do poço do desemprego ainda está muito pra frente — conclui.

Fonte: O Globo