Aumento da bandeira da energia traz alívio para crise, mas conta de luz pode subir mais em 2022

 quarta, 01 de setembro 2021

Aumento da bandeira da energia traz alívio para crise, mas conta de luz pode subir mais em 2022

A adoção de uma bandeira tarifária de R$ 14,20 para cada 100 quilowatt-hora (kWh) para compensar os custos da crise hídrica pode resultar em aumento maior nas tarifas de energia do próximo ano, segundo o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro.

O valor será praticado a partir desta quarta-feira, 1º de setembro, e representa uma alta de 49,63% em relação aos R$ 9,49 para cada 100 kWh praticados hoje, mas é bem menor do que os R$ 25,00 estimados pela própria Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para custear as despesas de geração de energia com usinas térmicas. “Essa decisão implica que os consumidores vão ficar devendo R$ 10,00, e esse débito será cobrado lá na frente por encargo do sistema, então a tendência da conta de luz é subir muito em 2022”, disse.

A bandeira “escassez hídrica” foi anunciada nesta terça-feira pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em conjunto com a Aneel. Ela servirá para cobrir os custos da crise hídrica estimados em R$ 13,8 bilhões. Desse valor, R$ 5,2 bilhões são relativos ao déficit na Conta Bandeiras até julho deste ano, e R$ 8,6 bilhões relativos aos custos estimados para importação e geração térmica adicional em setembro, outubro e novembro. A adoção da bandeira deve provocar um aumento de 6,78% na conta de luz em média.

Programa de bônus

Já em relação ao programa de bônus anunciado pelo MME para estimular os consumidores a reduzirem o consumo de energia, o professor da UFRJ acredita que sua eficácia dependerá da comunicação que o governo fará para sensibilizar a sociedade. “Tem um indutor que é, por um lado, subir a bandeira e falar que se o consumidor economizar, ele ganha”, afirmou.

Neste programa, o governo quer premiar os consumidores que reduzirem o consumo em um patamar de 10% a 20% com um bônus de R$ 50 a cada 100 kWh economizado. Pelas regras apresentadas pelo Ministério de Minas e Energia (MME), quem economizar menos que 10% não receberá bônus, e quem superar o nível de 20% tampouco receberá prêmio adicional.

O presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso, tem visão parecida em relação às medidas anunciadas. Para ele, elas são positivas, mas “agora é necessário explicar bem ao consumidor o que foi proposto e buscar seu engajamento para que tenhamos resultados”. Barroso lembrou que, mesmo com o anúncio, o desafio para garantir o abastecimento de energia dos próximos meses é grande “e setembro será um mês crítico para avaliar a funcionalidade de tudo que foi proposto”.

Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o aumento na bandeira encarecerá as contas de luz do ano que vem e terá impacto também sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação no País. “Deste modo, a projeção de 2022 apesar de ficar em 3,5% ganha viés altista.”

O economista destacou também que “outro aspecto relevante é que o fato de fixar a bandeira em tal patamar até o ano que vem busca-se minimizar apreensões sobre uma nova elevação, mas abre um passivo de risco para frustrações com o regime de chuvas”.

No setor produtivo, as medidas também foram avaliadas. Para o presidente da Accell Solutions, Henrique Costa, "o aumento da bandeira irá impactar em toda a nossa cadeia de distribuição, afetando inclusive o preço dos medidores”.

Por outro lado, o programa de incentivo ao uso racional de energia, que o governo prometeu, como forma de impedir o racionamento, foi bem recebido. Acredito que poderá trazer bons resultados na gestão do consumo, caso tenha políticas bem definidas de como será repassado o desconto aos consumidores".

Fonte: O Estado de S. Paulo